domingo, 28 de setembro de 2014

janela

Gosto de criar situações e histórias pra pessoas que vejo nas ruas. Sei lá, divirto-me, tenho vontade de perguntá-las o que estão pensando, coisas do tipo. E, como não posso fazer essas tais perguntas, acabo simplesmente... Imaginando.
Como na vez onde eu estava no terminal para pegar o ônibus, de Hamburg pra Dortmund. Sem nada pra fazer, subi logo no ônibus, que ainda demoraria uns certos 10 minutos pra partir. Nesse meio tempo, entediada, fiquei olhando o cotidiano através da janela do ônibus. Rodoviárias podem ser lugares surpreendentemente inspiradores e interessantes.


Pois bem, meu olhar foi direto pra um casal que se despedia. Ele estava de costas pra mim; dela, entretanto, eu podia enxergar a expressão. Estava chorosa, o rosto inchado, os olhos vermelhos. Encostou a cabeça no ombro do menino enquanto ele a abraçava pela cintura, provavelmente sussurrando promessas e juras de amor em seu ouvido. Daí, ficavam alternando entre beijos, abraços e palavras. Deixei a mente voar, então: imaginei que eles haviam se conhecido pela internet. Tinham, no máximo, 17 anos. Arriscaram e encontraram-se na vida real – uma surpresa ótima. Passaram um fim de semana inacreditável juntos e, agora, o dia em que ele tinha de voltar à sua cidade chegou. “Amor, baby, ei, continuaremos a nos falar pelo Face, pelo Skype, fica tranquila, ok?”

Um pouco mais ao lado, um menino devorava um hambúrguer. O desejo em seu rosto e o prazer em comer era tão grande que, ao ver essa cena, minha barriga roncou. A suposta irmã, ao seu lado, começava a bufar e suspirar. Cutucou-lhe, então, como que falando para se apressar, o ônibus (sempre tão pontual) não iria esperá-lo. E ele continuou a comer, com tão intensa vontade e - agora - pressa. A irmã, de casaco rosa, olhava de canto de olho pro seu hambúrguer, provavelmente com água na boca. Estava de dieta – a mãe botara em sua cabeça que ela tinha de virar modelo, tinha potencial, mas que isso acarretaria em certas consequências. Uma dessas consequências, por exemplo, seria não poder devorar hambúrgueres tal como seu irmão fazia.
Claro, tudo isso na minha imaginação. Talvez ela estivesse somente julgando o modo mal educado que o menino comia. Quem sabe.

E, um pouco mais longe, já ficando um tanto difícil de enxergar, uma viatura da polícia estava estacionada. Um tanto de policiais saíram dessa e começaram a revistar um homem barbudo, com duas malas, que permaneceu como uma estátua, numa expressão em choque. Era, na verdade, um “homem de família”. Tinha se envolvido numa briga e seu rival, em busca de vingança, havia enchido sua mala de drogas e feito uma denúncia a polícia. O barbudo foi levado à viatura, de modo injusto, mas não tinha como provar nada, tendo sido pego em - falso - flagrante.

Daí, subitamente, percebendo que minha mente é louca, fechei a cortina da janela com rapidez, e depois, os olhos. Dor de cabeça. O pensamento de que estou enlouquecendo.

E eu não quero ver TV nessa janela, já que não quero ficar presa nela. 


(escrevi dia 18 de abril. só quis postar agora.)

2 comentários:

  1. Lembro a viatura e o monte de policiais. Pensei tambem, o que tavam fazendo e pareçe, tambem, tinha um sentido de "errado"... Vc viajou, isso foi errado.....kkkkkkk

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    1. epa! só pq o cara era barbudo e tava com um terno estranho não quer dizer que ele seja culpado hahah quem sabe? :p

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